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Arménio Rego: "Protestos de milionários - responsabilidade ou hipocrisia?"

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Arménio Rego: "Protestos de milionários - responsabilidade ou hipocrisia?"
Quarta-feira, 22 de Setembro de 2021 in Líder Online

A crescente disparidade na distribuição da riqueza, em múltiplos países, é combustível para a fragmentação geradora de tensões sociais e polarização política. Franjas da população arredadas dos frutos do progresso económico adotam uma postura agressiva perante as empresas, as comunidades e os governos, com consequências para a estabilidade social e o próprio desenvolvimento económico. A diabolização dos "ricos" e milionários é um provável sucedâneo dessa agressividade.

Não surpreendem, pois, as manifestações de protesto defronte as casas de Jeff Bezos, um dos homens mais rico do mundo, em maio último. Num cartaz, a palavra de ordem era "Acabem com a conversa da treta. Taxem os ricos". Morris Pearl, um manifestante, afirmou ao jornal britânico The Guardian: "Estamos a chegar a um ponto em que temos um pequeno punhado de ricos e uma quantidade enorme de pessoas pobres, e isso não funciona. (...) Essa não é a forma de governar uma sociedade sustentável".

Nada disto surpreende. Deveras surpreendente é que os protestos tenham sido organizados pelos "Milionários Patrióticos". Morris Pearl é líder do movimento e coautor do livro "Taxem os ricos". Os manifestantes pretendiam apoiar mudanças na política fiscal norte-americana, entre as quais o plano de Joe Biden para aumentar os impostos sobre as empresas e os cidadãos com rendimentos mais elevados. Os locais escolhidos para as manifestações resultam de uma idiossincrasia do detentor das duas casas. Bezos tem afirmado que apoia o aumento de impostos sobre as empresas, mas a Amazon, que fundou e liderou durante dezenas de anos, tem sido amplamente criticada pela adoção de estratégias de evasão fiscal. O seu estilo de liderança abrasivo e as práticas alegadamente desumanas da Amazon também têm sido alvo de críticas.

Três razões podem explicar os protestos. A primeira, a mais cínica, é a inveja. Estes milionários invejam os multimilionários como os pobres invejam os ricos. Uma segunda possível razão para os protestos é que estes milionários estão preocupados com os efeitos da fragmentação social sobre a estabilidade social e política, o progresso económico e, daí, a sua própria riqueza. A essa luz, os protestos são racionais e instrumentais na preservação e no reforço da condição milionária dos seus autores. A terceira explicação é mais virtuosa: estas pessoas são genuinamente preocupadas com o bem-estar dos seus semelhantes e dispostas a sacrificar parte da sua riqueza em prol do bem-comum.

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