José Azeredo Lopes, docente da Escola do Porto da Faculdade de Direito da Universidade Católica.
A antecipação das celebrações do dia da Vitória em Moscovo continha várias coisas apetitosas. A principal, no entanto, era o que poderia constar do discurso de Vladimir Putin. Cada vez mais sensíveis à comunicação, e com o fascínio que sempre exercem os maus, fez-se um retrato a priori que, para dizer a verdade, já quase dispensava o que o líder da Federação Russa entendesse por bem proclamar. Comparações e similitudes com Adolf Hitler e com as suas várias campanhas de agressão, análise da dimensão cénica da cerimónia, há ou não há força aérea a sobrevoar a Praça Vermelha, etc.
Quase demos por certo que ia haver uma declaração formal de guerra à Ucrânia. Pois, mas não houve. E a possibilidade de uma qualquer forma de mobilização geral? Nada de nada. Antecipava-se um sinal, um que fosse, sobre as opções fundamentais da Rússia para o continuar do conflito, para futuras ou presentes anexações territoriais? Não houve nada disso.