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José Alberto Gomes: "A arte pode e deve ser compreendida como uma forma de criação de conhecimento"

Segundo o dicionário Merriam-Webster, a Arte é "o uso consciente de habilidade e imaginação criativa, especialmente na produção de objetos estéticos". Esta abordagem leve e superficial destaca a importância da intenção e da habilidade na criação artística, bem como o objetivo de produzir algo que seja esteticamente atraente. No entanto, a Arte vai muito para além da mera produção de objetos estéticos.

Avançando um pouco mais para além desta primeira camada, Marilina Maraviglia propôs-nos que a Arte, que abrange uma ampla variedade de atividades humanas, é frequentemente considerada como um processo ou produto de organizar deliberada e conscientemente elementos que apelam aos sentidos ou às emoções. Mas acima de tudo, e o que mais nos interessa para este pequeníssimo ensaio, diz-nos que desempenha um papel crucial na cultura: Reflete os substratos identitários, económicos, sociais, filosóficos de uma sociedade; transmite e trabalha ideias e valores que são inerentes a cada cultura, servindo como um meio de comunicação e expressão que atravessa o tempo e o espaço; desempenha um papel vital na cultura através da transmissão, criação e questionamento de ideias e valores ao longo da história.

É exatamente neste caminho que encontramos a complexidade, interesse e beleza do que é a Arte. A Arte tem tido para mim um papel deveras interessante na história da humanidade. A expressão artística está presente nas mais diversas culturas e é das atividades que, mesmo perante as suas mutações, é constante e transversal. Mas o mais extraordinário é o estranho e frágil equilíbrio que lhe é inerente.

Sempre presente, mas sempre esquiva. Todos têm uma opinião (melhor ou pior, positiva ou negativa) sobre a essência da Arte, mas dar-lhe uma definição é praticamente impossível. O conceito é na sua essência fugidio. Quando o definimos já está desatualizada. Mas, contudo, isto não impede, nem impediu, a Arte de estar permanentemente presente com a função de “não servir para mais nada” além de ser Arte, mas ao mesmo tempo carregar em si o peso da condição humana. A criação pela criação.

Por isto e por muito mais, do ponto de vista epistemológico, a arte pode, e na minha opinião deve, ser compreendida como uma forma de criação de conhecimento. Ela oferece uma visão única e valiosa sobre as naturezas da realidade e, como tal, da condição da existência humana.

José Alberto Gomes

Professor Auxiliar da Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa e Investigador Integrado do CITAR – Centro de Investigação em Ciência e Tecnologia das Artes

15-04-2024